terça-feira, junho 27, 2006

Serenity (2005)

Antes de falar sobre o filme em si, convém referir que “Serenity” está situada no universo de uma já extinta série de TV da Fox chamada “Firefly”. A série, que estreou a 20 de Setembro de 2002 nos EUA, foi cancelada ao 11º episódio devido aos fracos resultados junto das audiências.

Curiosamente, foi no DVD (com alguns novos episódios adicionados aos já exibidos) que esta obra vingou, e essa foi a principal razão pela qual a Universal decidiu investir 40 milhões de dólares na película. E não podiam estar mais certos. “Serenity”, o filme, é um triunfo, e uma saga definitivamente para o futuro.

Ao contrário das habituais obras espaciais, “Serenity” é tão “humana” que até faz alguma confusão ao espectador comum. Entenda-se como “humana” o nítido afastamento aos elementos fantasiosos com que os filmes espaciais geralmente lidam. Aqui não há aliens escabrosos, monstros verdes, em forma de rocha ou mesmo cabeludos. Há robôs, mas não de forma excessiva e não há uma inteligência artificial desmesurada.

Para além disso, os humanos que circulam pelo ecrã têm sensações e uma química muito real, afastando-se um pouco das obras em que “há um escolhido” e tudo gira em torno dele. Também as batalhas espaciais estão em segundo plano, e atrevo-me mesmo a dizer que “Serenity” é dos poucos filmes que, apesar de ter muita tecnologia envolvida, não sobrevive, nem depende dela.

Como tal, temos assim uma saga espacial futurista (lá para o século XXVI), mas limitada na evolução tecnológica - e como tal muito mais credível.

Mas afinal o que é “Serenity”? Serenity é o nome da nave tripulada por um grupo de pessoas que nos dias de hoje dedicam-se a pequenos roubos. Na sua liderança está Malcolm Reynolds, um ex-combatente das forças independentes que lutaram e perderam contra um governo totalista que pretendia comandar o universo – a “Aliança”. No meio desse grupo temos River, uma jovem prodígio que foi vítima de algumas experiências por parte da “Aliança”.

Após uma fuga arquitectada pelo seu irmão (Simon), os dois juntaram-se ao grupo, sendo intensamente perseguidos pela Aliança, que não olha a meios para a capturar. Mas porque razão quer a Aliança capturar esta jovem? Que terá ela de tão valioso que eles desejem?

Isso deixo para vocês descobrirem no cinema.

Eu confesso que não sou particularmente fã de obras no espaço. O fenómeno “Star Wars” e “Star Trek” passou-me ao lado, e apenas sigo com alguma atenção Battlestar Galactica. O certo é que “Serenity” agradou-me sobremaneira, a tal ponto que mal terminou o filme me apeteceu imediatamente ver de novo, especialmente as sequências em que River “acorda” (depois percebem) e começa a distribuir pancada por tudo o que lhe aparece à frente. Creio que nunca tinha visto uma personagem feminina com tanta força, carisma e ao mesmo tempo ingenuidade e fraqueza no grande ecrã.

Qual Milla Jovovich a dizimar zombies, ou mesmo Tomb Raider aos pontapés no Cambodja e alto mar. River é a “bomba” feminina (da acção) do momento. Aliado a isto, vem o tal background de normalidade espacial, onde não se criam deslumbrantes mundos que nitidamente são fantasiosos, mas muito pouco credíveis. Até os horríveis Reavers – um bando de canibais espacial – são bem introduzidos na acção, havendo também destaque para a química existente entre todos os elementos do elenco – que já tinham trabalhado juntos na série.

Para ainda ajudar mais, temos um vilão tão frio como inteligente, tão diplomático como calculista – brilhantemente personificado por Chiwetel Ejiofor. Nesse aspecto, Joss Whedon (“Buffy the Vampire Slayer” e “Angel”) e o seu mundo vence plenamente no confronto com David Twohy e “The Chronicles of Riddick”, outra tentativa recente de sobrevivência espacial pós “Star Wars” – se bem que Riddick é mais um veículo de promoção de Vin Diesel que outra coisa.

Por todas estas razões, creio que “Serenity” é uma saga que veio para ficar, e uma brilhante estreia na realização de Joss Whedon. É certo que o filme perde um pouco de fulgor quando despreza algumas personagens (como Irina), quando usa demasiados sentimentos (River e o irmão) e por certas vezes ser previsível (como na descoberta da origem dos Reavers), mas a forma como se auto- constrói, jogando até com o politicamente incorrecto como forma de sobrevivência, é de uma ousadia que só podemos louvar.

Certamente que não é um filme para todos os públicos, pois funciona como um western de ficção cientifica, mas os fãs de “Firefly” e os apreciadores de ficção cientifica em geral deverão ficar satisfeitos com o resultado final, podendo assim esperar certamente várias sequelas e até o renascer da série de TV 7/10

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