quinta-feira, abril 03, 2008

Para o ano há mais

O português transfigura-se quando sabe que vai para o Algarve.

Há vários sítios em Portugal, lindos por sinal, para passar as férias da Páscoa, mas o Algarve toca fundo no coração do português.

Tudo começa na viagem.

Como assim?

Calminha.

O peso do carro.

Percebemos que uma família vai para o Algarve quando o carro está com mais duzentos quilos do que devia, com o pára-choques traseiro a fazer faísca na estrada, uma fralda pendurada na janela de trás para o menino coitadinho não apanhar sol, e com um pack de 24 rolos de papel higiénico a tapar o vidro de trás da viatura, para facilitar o acidente.

Porque toda a gente sabe que o papel higiénico está a acabar no Algarve.
Isso e a navalheira.

São duas coisas que estão no fim dos fins.

Se a mesma viatura tiver um triângulo a dizer "Criança a Bordo" da Milupa, com o Vitinho todo jeitoso, então nesse caso não se pode pedir muito mais a Deus.
Deus, ao enviar-nos para a estrada ao mesmo tempo que esse carro já nos deu tudo o que tinha a dar.

Chegam então ao destino.

O pára-choques de trás ratado e o condutor com um boné de uma gasolineira qualquer (mutação que se faz sentir a meio caminho, para os lados do Alentejo).
Pousam no hotel toda a mobília do T2 que veio na bagageira.

E saiem as pessoas em números que desafiam a lotação do carro.

Começa o fenómeno: Manadas e manadas de portugueses a correrem para a praia, como se a areia fosse acabar amanhã.

A reacção normal seria: "Vamos ficar no quarto que está chuva e frio"
Bem sei, mas isso é secundário.

Se os convidassem para ir para a praia da costa da caparica num dia de inverno achariam ridículo.

Mas no Algarve já é outra coisa.

É classe.

Dois fenómenos claramente portugueses: ir para os centros comerciais com sol e para a praia com chuva.

Há, no entanto, uma peça fundamental que se repete nestes dois acontecimentos:
O fato de treino.

Vão de fato de treino ABIBAS ou REEBOKA para o Colombo porque nunca se sabe se não vai estar lá a Vanessa Fernandes a fazer um triatlo entre a Zara, a Massimo Duti e a Fnac.

E vão de fato de treino para a praia porque os calções estão fora de questão, a não ser que queiram perder as duas perninhas com o gelo.

Chegam.

Sentam-se em cadeiras de praia a ler o Correio da Manhã e a comer sandes de borrego que levam numa geladeira.

Os mais tímidos ficam a ler a Bola dentro do carro enquanto a esposa dorme no lugar do pendura.

Voltam a casa com os carros mais leves e com o profundo sentido de dever cumprido.

Para o ano há mais.

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