sexta-feira, dezembro 02, 2005

A Confissão de Cipriano

O primeiro a bater foi João Cipriano. Joana não caiu com as duas primeiras chapadas que o tio lhe deu. Ficou ali, junto ao sofá da pequena casa da Figueira, acabada de chegar com as compras.

Quando Cipriano voltou a erguer a mão, já a menina estava junto à porta do quarto. Desta vez, Joana bateu com a cabeça na ombreira da porta à altura do puxador e deitou sangue do nariz. Apanhou mais duas chapadas, dadas pela própria mãe, Leonor. A menina voltou a bater com a cabeça, outra vez na ombreira, mais abaixo. Joana deitou sangue pela boca e sangrou do sobrolho esquerdo.

As seis pancadas mataram-na e a sucessão de golpes foi confessada pelo próprio João Cipriano aos inspectores da PJ, treze dias após o crime. O tribunal considerou-a válida: no último dia 11 de Novembro condenou João a 19 anos e dois meses de cadeia e Leonor a 20 anos e quatro meses.

A confissão do crime, a que o CM teve acesso, é breve e fria. A mãe e o tio da menina, ainda segundo o relato, conversam junto do corpo caído de Joana e acreditam que ela está morta.

João contou à PJ que estava em casa com Leonor. Ele sentado no sofá, ela de pé. Joana entrou com as compras: o pacote de leite e as duas latas de conserva. Leonor, prossegue João, pergunta à filha se tem o dinheiro que sobrou das compras. A criança responde que o perdeu ou que não sabe onde está, admite João.

Ao ouvir Joana dizer que não tinha o dinheiro, Leonor dirige-se a João e diz-lhe para dar uma chapada na menina. João confessa que se levantou e aplicou duas estaladas na menina: uma com a mão esquerda, outra com a mão direita. Joana não caiu: virou-se ao tio, disse-lhe que não tinha o direito de lhe bater.

A menina, a mãe e o tio – ainda segundo a confissão – estão agora junto à porta do quarto de Leonor. João dá mais duas chapadas na menina. A terceira e a quarta. Desta vez, Joana bate com a cabeça na ombreira da porta e sangra do nariz.

João Cipriano conta que Leonor deu mais duas chapadas à filha: a quinta e a sexta. A cabeça da criança volta a bater na ombreira da porta, agora uns centímetros mais abaixo. A menina sangra do sobreolho esquerdo e da boca.

Na altura em que a PJ fez a reconstituição do crime e obteve a confissão, João Cipriano pegou num banco da cozinha, que ali fazia as vezes da criança, e mostrou como ficou o corpo: deitado para cima, pés juntos e a cabeça virada para a porta do quarto da mãe.

João recordou que tocou no peito da menina. “Se calhar morreu”, disse à irmã. Leonor respondeu-lhe. “Se calhar desmaiou e morreu”.

Joana estava morta e havia uma poça de sangue junto ao corpo. João contou ainda que, depois de limparem a casa, ele e a irmã enfiaram o corpo da menina num saco.

Meses mais tarde confessará que o cadáver foi esquartejado e que o motivo para o crime foi um acto incestuoso: a menina descobriu a mãe e o tio a manterem relações sexuais.

Nunca contou onde estava o corpo. Tal como Leonor.

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