Air - Talkie Walkie (2004)

O tom dolente, melancotrágico e por vezes até sinistro que o duo francês sublinhou na banda-sonora de “The Virgin Suicides” está de volta. Mas com uma diferença. Os AIR mostram-nos em “Talkie Walkie” como nem sempre um pouco de introspecção e mágoa significam tristeza. Tudo pode, afinal, confluir em 43 minutos de muita ‘coolness’ com genica e charme suficientes para fazer derrubar os estereótipos e promulgar uma nova forma de caminhar à face da terra. Entenda-se: com as costas direitas, a ondular a espinha dorsal, a elevar uma das sobrancelhas, as estalar os dedos e ao mesmo tempo a recitar Kant.
Quem tiver dúvidas sobre os antípodas sonoros em torno dos quais os franceses AIR nos derrubam em cada faixa, ouça apenas, e de seguida, “Another Day” e “Alpha Beta Gaga”. Se num pólo temos a tragédia, no outro temos um Verão solarengo feito de gelados e bronzes perfeitos.

...Estes franceses são loucos. Que raio, já não bastava serem bons músicos ainda tinham de estar sempre a jogar com as emoções. Claro que a simplicidade das suas composições aqui se reforça (como a discussão sobre se isso é reflexo das suas elevadas limitações ou extremo apuro). O facto é este: “Talkie Walkie” desliza pelos ouvidos como um cometa no espaço sideral, mas sem turbulência.

Não é à toa que no álbum de estreia o duo francês tenha inserido ícones ligados ao mundo do Espaço, do Universo e até da ficção-científica. Não estou com isto a querer dizer que os AIR fazem música do outro mundo (mas num sentido popular até poderia dizê-lo). Contudo, são inegáveis os contornos musicais e paisagísticos com acentuadas inspirações galácticas. “Surfing on a rocket” tem direito a destaque e promessa de hit-single. O refrão repete-se e a melodia delicodoce (sempre reforçada pelas vozes de açúcar e algodão) penetra facilmente na memória auditiva até do mais distraído. 10/10

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