Young Adam (2003)

Escrito e dirigido pelo escocês David Mackenzie, o filme é baseado no livro de Alexander Trocchi e conta a história de Joe Taylor (McGregor), um rapaz que reside e trabalha num barco de transporte de carvão. Certa manhã, ele encontra o cadáver de uma jovem flutuando no rio e comunica o facto à polícia. À medida que as investigações sobre a morte da mulher vão transcorrendo, Joe passa a relembrar seu envolvimento com Cathy (Mortimer), de quem se separara há alguns anos, e também acaba por se tornar amante de Ella (Swinton), esposa do homem que o empregou, Les (Mullan). E, como os três moram juntos no barco, o clima torna-se tenso entre todos.
O primeiro grande problema do argumento diz respeito à obviedade da identidade do cadáver, cujo rosto não é revelado a princípio: qualquer pessoa que já tenha assistido a dois ou três filmes do gênero imediatamente percebe que o corpo é de Cathie - e é inexplicável, o motivo que leva Mackenzie (errando duplamente, como director e como argumentista) a tratar o assunto como um enigma. Para piorar, o afogamento da rapariga (cujas circunstâncias não revelarei, embora não faça a menor diferença) é encenado de forma implausível, artificial. É difícil acreditar que pudesse ter acontecido daquela maneira, mesmo em um filme.
Por outro lado, a abordagem que O Young Adam faz do sexo é bem interessante, mesmo que nada original: aqui, os personagens entregam ao sexo não por amor - e nem mesmo por atração física -, mas por puro instinto animal. SEXO é a única forma que eles encontram de sentir alguma coisa, mesmo que não seja prazerosa. Para estas pessoas, o sentimentalismo é pura abstração; algo irreal e ao qual eles não podem se dar ao luxo de conhecer. Assim, quando Joe pergunta a Ella, depois de terem sexo pela primeira vez, se ela está arrependida, a resposta é lógica e directa: 'Que bem isso me faria?'.
Aliás, Tilda Swinton, como Ella, faz o possível e o impossível para aniquilar qualquer traço de sensualidade (ou mesmo feminilidade) que sua personagem pudesse ter: com os cabelos sempre oleosos e a postura encurvada (mesmo nas cenas de nudez, o que prejudica a forma dos seios e da barriga), Swinton ainda faz questão de exibir as axilas não depiladas e de comer sempre com a boca aberta. O resultado óbvio é que o espectador não consegue compreender o que levaria o belo e culto Joe a se tornar parceiro de Ella, que nem sequer é simpática, divertida ou particularmente inteligente - o que ressalta o foco animalesco que o filme confere ao sexo.
Mas Swinton não é a única a fazer escolhas corajosas: ao compor Joe, Ewan McGregor criou um personagem introspectivo, que jamais deixa transparecer qualquer tipo de emoção. Ora, quem assistiu a Trainspotting, Velvet Goldmine ou Moulin Rouge sabe que McGregor é um actor talentoso e expressivo - e que, portanto, a caracterização de Joe é uma opção, e não uma limitação de seu intérprete. E é formidável que ele consiga retratar os conflitos internos do protagonista sem 'utilizar' o rosto.
Ainda assim, há algo que McGregor não consegue evitar: graças principalmente à introspecção do personagem, O Young Adam torna-se num filme frio que encontra sérias dificuldades em estabelecer conexão com o espectador - e, ao final da projeção, temos uma certa sensação de 'E depois?', o que compromete a experiência. Da mesma forma, o título pode soar inexplicável para parte do público, já que não há Adam algum na trama. Porém, se observarmos que o barco no qual Joe mora se chama Lady Eve, o título começa a fazer um pouco mais de sentido - principalmente se lembrarmos que Adão e Eva protagonizaram uma história clássica de tentações (especialmente sexuais) e de consequentes promessas não cumpridas.
Pena que nada disso transforme O Young Adam em um filme melhor. 6/10

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