My Blueberry Nights (2007)

Wong Kar Wai encena aqui mais uma das suas histórias de amor que depois de Mood of Love e 2046, obras exclusivamente chinesas, decide prestar “auxílio” num elenco ocidental como também dos cenários para recontar a sua recorrente de dois seres magoados que descobrem o amor para além das suas mágoas. O célebre autor chinês traz até nós, um caso amoroso e invulgar em que Norah Jones e Jude Law partilham o seu espaço limitado num café-bar sempre iluminado, unidos pela “tragédia” conjugal, tornam-se rapidamente amigos e confidentes ocupando as noites de histórias acerca das chaves perdidas que a personagem de Law guarde num frasco e do porquê ninguém comer as tartes de mirtilos que ficam imaculadas durante o fecho do estabelecimento.

Depois de algumas noites calmas que previam virar rotina, a personagem de Norah Jones decide mudar a sua vida cada vez mais dependente do dito café e sai de Nova Iorque (cenário dos primeiros planos) e embarca numa viagem que facilmente ganha contornos de uma fábula de Lewis Carroll, que se apresenta nas personagens que esta irá conhecer, cada uma delas marca-la á sua maneira e percebe-la que o seu verdadeiro “eu” encontrava-se onde ela menos esperava.

Seguindo o mesmo conceito de Mood of Love (1998), principalmente nos primeiros planos em que o autor, Wong Kar Wai condena os seus planos á dependência do seu par romântico, neste caso com três incluindo o café que nesta metragem torna-se uma conscientemente carácter de tamanha importância para a historia. Mas para felicidade de muitos, Kar Wai decide arriscar na sua narrativa e com isso engloba mais historias, mais personagens e mais promessa que as quebra entre a explosão de cores confortantes nos seus variados cenários.

Outra grande aposta do autor é na escolha de Norah Jones (a cantora de blues e jazz) como protagonista, e tendo em conta que ela nunca representou na vida, podemos considerar isso, um benefício para “espinha dorsal” da fita. O resto do elenco encontra-se perfeitamente bem; Jude Law traz o carisma, Rachel Weisz revela o porquê a distinção do Óscar de Melhor de Actriz Secundaria em The Constant Gardner (2005 – Fernando Meirelles), nota-se que esta tem vindo a ser cada vez mais cuidadosa com os seus papéis a partir daí e em My Blueberry Nights encontra-se irreconhecível, também Natalie Portman exibe o seu talento de actriz promissora ou já declarada, fica no critério de cada um. Para finalizar, David Strathairn (nomeado ao Óscar de Actor Secundaria em The Good Night, The Good Luck – 2005), traz aqui uma personagem que cativa o espectador.

É a grande aposta de Wong Kar Wai e ganha em todos os sentidos, um romance incomum ausente dos habituais estereótipos americanos e uma viagem ao interior da criatura” sofrida que se revela numa explosão de cores e uma metáfora á paixão. Norah Jones é a revelação e um espanto quer de desempenho, quer da sua magnífica voz que integra a banda sonora deste filme muito bem interpretado. 7/10

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