terça-feira, janeiro 09, 2007

Thumbsucker (2005)

O cinema americano gosta muito de falar da sua juventude. Nas películas dos grandes estúdios a abordagem é quase sempre a mesma. O sexo comanda as suas vidas, se bem que pelo meio possam existir sonhos pelos quais vale a pena lutar. Em oposição, o cinema independente trabalha mais a juventude que não se enquadra nos padrões habituais da sociedade.

Veja-se “Ghost World”, “Napolean Dynamite” e até a obra de horror “Ginger Snapes”. Cada um destes filmes mostra o lado oposto da “normalidade”, colocando as suas personagens centrais como marginalizados. Porém, e também no cinema “indie” existem clichés, que no principio não diferem muito do que o cinema mainstream faz.

É no meio destas tendências que surge “Thumbsucker”, o filme que marca a estreia na realização para cinema de Mike Mills, um artista gráfico e realizador de videoclipes. Em “Thumbsucker” seguimos a história de Justin Cobb, um adolescente de dezassete anos que ainda chucha no dedo. Porém essa atitude, ridicularizada pela sociedade, não é a questão central.Para além dessa situação, Cobb é um jovem atormentado por algo que não consegue desvendar.

O jovem começa a falhar na escola e os seus país são chamados para uma reunião. Aí é sugerido que Cobb anda a ter um comportamento estranho porque sofre de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Esta doença, muito estudada nos dias de hoje, foi particularmente estudada a partir dos anos 80 e resolvida através de medicação.Um dos estimulantes mais utilizados era o Metilfenidato (Ritalina®). Mas havia outros, como a d-anfetamina (Biphetamine®) e a Pemolina (Cylert® - EUA). Estes medicamentos estimulavam a concentração e controlam a hiperactividade. É isso que acontece com Cobb, que depressa começa a mudar e a comportar-se de maneira de maneira diferente.

Mas este não é apenas um filme sobre Cobb.A sua família é um ponto de estudo também, e não me lembro da última vez que vi um filme onde os familiares da personagem principal são realmente “humanos”, e não meras caricaturas típicas. Assim o filme estende-se a todos os que rodeiam o jovem Cobb: familía, “namorada”, “amigos”, o dentista, vedeta de TV e professores; e todos são tratados com a profundidade necessária para podermos dizer que o filme tem um dos melhores argumentos no que toca à adolescência.

Aqui não há personagens periféricas, para encher o elenco. Existe uma certa tendência nestes filmes independentes de criar personagens vazias na obra e colocar um actor famoso a interpretá-las (cameos). E se em “Napolean Dynamite” se declarava o direito à diferença, aqui afirma-se que o conceito de normalidade é uma moda e que no fundo o jovem era apenas alguém repleto de unicidade. A acompanhar este argumento de eleição, temos a realização de Mike Mills.

Quando um cineasta vem do mundo dos videoclips há sempre uma tendência em abusar da imagem, fotografia, montagem e banda-sonora Pelo contrário, e tal como todas as personagens desta obra, Mills prima pela simplicidade da beleza. Assim temos um trabalho de imagem e planos simples, com alguns esporádicos desvarios, mas muito bem enquadrado. Não há as habituais viagens psicotrópicas (como em “Spun” ou “Requiem for a Dream” – onde a questão das drogas socialmente aceites era também referenciado), típicas quando as drogas são um dos temas abordados.

Também não se cai muito na introspecção cega, apesar deste ser um filme que busca as respostas dentro de cada uma das personagens.No que concerne ao elenco, não sei por onde começar ou se deva mesmo falar dele. Do pequeno irmão de Cobb (Chase Offerle), aos pais deste (Tilda Swinton e Vincent D'Onofrio), passando pelo professor (Vince Vaughn) e o dentista (Keanu Reeves), todos estão muito bem. Mas com a riqueza das suas personagens seria difícil falhar.

No entanto, destaque para a direcção de actores. Por estas razões, não tenho pejo em afirmar que estamos perante um dos mais simples e interessantes filmes do ano. A sua aparente simplicidade temática, e onde não existem “murros no estômago”, jogam contra si. Mas é essa dose de realismo, ainda que ficcional, que lhe dá beleza.
A não perder 7/10

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1 Comentários:

Às quarta-feira, janeiro 10, 2007 , Anonymous Anónimo disse...

Não sei se os filmes deste género retractam a realidade das famílias americanas. Se assim é os psiquiatras têm futuro garantido nesse país.

 

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