sábado, julho 29, 2006

Inside Man (2006)


“Inside Man” é um energético e revigorante “Heist movie” que dá gosto em assistir. Em primeiro lugar, tal acontece devido ao estatuto de entretenimento que a obra possui.

Os primeiros minutos são diabólicos e assistimos impávidos, mas nunca serenos, a um assalto brilhantemente orquestrado - sendo para isso utilizados como reféns todos os presentes na instituição bancária. Logo depois a acção volta-se para a resposta policial, havendo um maior destaque para a presença de Denzel Washington e Chiwetel Ejiofor como os líderes e negociadores com os assaltantes.

Desenganem-se porém se acham que este é um assalto comum, onde meia dúzia de sacos de dinheiro são o objectivo dos criminosos. No fundo, quem poderia responder melhor a esta questão é o dono do Banco, interpretado por Christopher Plummer, e Jodie Foster, uma mulher contratada por este último para recuperar algo que ele considera muito valioso.

O filme evolui assim em vários níveis da acção, nunca se confundindo nos objectivos, nem menosprezando os pequenos detalhes. E é aqui que surge a 2ª razão porque este filme é um deleite para os nossos olhos e mente. Associado a um entretenimento eficaz surge o dedo de autor de Spike Lee nas pequenas coisas. O racismo, o pós 11 de Setembro em Nova Iorque e outras questões sociais, recorrentes na sua obra, voltam assim a ser parte integrante do evoluir da história, nunca se sobrepondo a um evento maior, e sempre surgindo em doses perfeitas.

Como exemplo disso temos o apontamento de Lee à confusão habitual entre os sikhs e os árabes, curiosamente já referida em alguns trabalhos no cinema e na TV. Mas a problemática dos videojogos – onde Spike Lee dá a ferroada à muito esperada à cultura “Get Rich or Die Tryin” de 50 Cent, não é esquecida, constituindo este segmento uma das pequenas preciosidades que conseguem dar uma maior profundidade a certas personagens.

Para além disso, há outro elemento estrutural deste filme que dá gosto em ver. O casting foi perfeito, de uma ponta a outra, e não há realmente qualquer falha a apontar. Denzel Washington é um polícia que quer resolver a questão sem problemas, já que este caso calhou na melhor altura. Injustamente incriminado pelo desvio de fundos, Denzel terá de se esforçar para recuperar alguma credibilidade, e sendo um dos actores mais consagrados e talentosos de Hollywood, o papel deste polícia cai-lhe que nem uma luva.

Ao seu lado temos Chiwetel Ejiofor, um actor que tarda em explodir. Nos últimos anos, Ejiofor tem conseguido carimbar a sua presença no cinema com trabalhos muito conseguidos. De imigrante ilegal em “Dirty Preety Things”, a Operativo em “Serenity”, Ejiofor tem demonstrado talento, algo com que volta a primar nesta obra. Ainda no lado policial um pequeno destaque para a presença de Willem Dafoe num papel bem secundário. O actor, há muito afastado das grandes produções, surge nesta obra de forma contida, mas eficaz. O seu papel também não exigia muito, e só é pena que isso seja assim pois este é um dos melhores actores em actividade.

Passando agora aos ladrões, que dizer de Clive Owen? Este é um dos mais enigmáticos e calculistas papéis de Owen, que desde “Closer” e “Sin City” parece ter ganhado o seu posto na cinematografia americana. Passando quase todo o filme de rosto coberto, é a sua voz que transmite aquilo que a sua personagem necessitava ser, conseguindo uma interpretação forte e mesmo carismática. Quanto aos restantes “bandidos”, não há ninguém em especial a destacar, pois quer a personagem de Owen, como ele próprio como actor, puxam para si a acção e os olhos da multidão.

Chegamos então a Plummer e Foster, os elementos mais misteriosos neste trabalho. Plummer é um actor muito experiente, com dezenas e dezenas de filmes no curriculum e uma forma de actuar muito sóbria e forte. Foster é um prodígio desde os tempos de “Taxi Driver”, e aqui assume o papel de uma mulher que apesar da capa profissional que apresenta consegue definir bem o que é certo e errado. A forma como entra e sai de cena é inesquecível, sendo mesmo uma das melhores prestações que a vimos ter nos últimos tempos.

Há uma conversa desta actriz com Denzel Washington que é o expoente máximo da firmeza da sua personagem, ainda que colocada contra a parede.

Para além disto tudo não convém esquecer o brilhante trabalho de Barry Alexander Brown na montagem (super energética, mas não sufocante) e de Terence Blanchard e A.R. Rahman na composição musical. Aliás, a música de abertura (e fecho) deste filme (que não posso afirmar com certeza absoluta, mas que creio ter ouvido em “Bendit Like Beckham”), dá logo boas indicações acerca do que vamos ver, não se tratasse de um filme onde várias raças interagem, tal como os estilos musicais apresentados (do tom hip hop ao som de bollywood).

Assim sendo, e somadas todas estas partes, apenas um pequeno apontamento para o argumento, que por algumas vezes me pareceu ser demasiado rebuscado, especialmente na resolução final, que apesar de desejável, não deixa de dar que pensar em termos de credibilidade. Mas este é um mero detalhe, numa obra de ficção que tenta revisitar alguns clássicos e homenagear os “heist movies” dos anos 60 e 70, não precisando ser assim um trabalho muito original para triunfar.

E tudo isto é conseguido com o incontornável dedo de Spike Lee, um dos mais energéticos e fulminantes (nas palavras) cineastas americanos, que aos poucos ganhou uma maturidade assustadora.

Juntar entretenimento com o seu mais puro cinema de autor é obra, e faz deste filme uma imperdível experiência 8/10

Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=62Q4FcLyRR4&search=inside%20man

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